Explosões misteriosas de pagers no Líbano deixam 9 mortos e milhares de feridos
Na última terça-feira, 17 de setembro, uma série de explosões de pagers no Líbano causou grande comoção ao deixar ao menos nove pessoas mortas e cerca de 2.800 feridas. Entre as vítimas fatais, estavam oito membros do grupo armado Hezbollah e uma menina, segundo informações do Ministério da Saúde do Líbano. O incidente ocorreu em diversas áreas do país, incluindo ruas, supermercados e barbearias, gerando pânico e desordem.
O Hezbollah, grupo apoiado pelo Irã que atua tanto como milícia quanto partido político no Líbano, imediatamente culpou Israel pelo ocorrido. As autoridades libanesas também apontaram para a possibilidade de que as explosões tenham sido provocadas por uma ação coordenada do país vizinho, embora Israel ainda não tenha comentado oficialmente o caso.
Os pagers, pequenos dispositivos de comunicação que funcionam por meio de sinais de rádio, foram amplamente utilizados nas décadas de 1980 e 1990 para enviar e receber mensagens. Embora tenham perdido espaço para os smartphones, o Hezbollah continuava a utilizá-los como uma forma de evitar o rastreamento por Israel, já que os pagers não possuem sistemas de geolocalização.
As explosões ocorreram de forma sincronizada em diversas localidades, incluindo subúrbios de Beirute e o vale do Bekaa, e até na Síria, onde o Hezbollah também possui presença. Imagens compartilhadas nas redes sociais e capturas de câmeras de segurança mostraram o impacto das explosões em locais públicos, deixando um rastro de destruição e muitas vítimas. Alguns vídeos exibiram homens feridos sendo atendidos ou transportados para hospitais, em meio ao caos gerado pelas explosões.
Logo após o incidente, surgiram especulações sobre as causas das explosões. Uma das primeiras hipóteses levantadas foi a de que os pagers poderiam ter sido alvo de um ataque cibernético. A teoria sugeria que hackers poderiam ter conseguido controlar remotamente os dispositivos, causando um superaquecimento das baterias, o que teria provocado as explosões. No entanto, especialistas em segurança cibernética rapidamente descartaram essa possibilidade. Segundo eles, é improvável que um ataque hacker desse tipo pudesse atingir simultaneamente tantos dispositivos.
Uma explicação mais provável, de acordo com especialistas consultados pela mídia, é que os pagers tenham sido sabotados antes de chegarem aos usuários. Uma investigação preliminar das autoridades libanesas apontou que as explosões foram causadas por pequenas quantidades de explosivos — entre 10 g e 20 g — escondidos em componentes eletrônicos falsos dentro dos pagers. A cadeia de suprimentos, segundo essa teoria, teria sido comprometida, permitindo que os explosivos fossem colocados nos aparelhos antes de sua distribuição ao Hezbollah.
Essa possível sabotagem na cadeia de suprimentos levanta questões graves sobre a segurança do grupo armado. O Hezbollah, que já abandonou o uso de smartphones devido ao medo de espionagem e rastreamento, dependia dos pagers para suas comunicações internas. O incidente revelou uma vulnerabilidade significativa em suas operações, que pode comprometer tanto a moral quanto a eficiência do grupo.
O impacto das explosões vai muito além da perda de vidas e do número de feridos. O Hezbollah é um grupo altamente organizado, que atua tanto militarmente quanto politicamente no Líbano e na região. A falha de segurança exposta pelo ataque afeta diretamente sua capacidade de operar de forma segura e eficiente. A comunicação entre suas unidades foi abalada, e o incidente pode levar o grupo a rever suas estratégias e procedimentos logísticos.
Além disso, o fato de que os dispositivos, supostamente seguros, explodiram em locais públicos e em momentos inesperados, gera um impacto psicológico significativo nos membros do Hezbollah e na população local. Vídeos mostram explosões ocorrendo em locais comuns, como supermercados e barbearias, o que aumenta a sensação de insegurança e vulnerabilidade.
Um membro do Hezbollah classificou o incidente como a "maior falha de segurança" do grupo desde o início da intensificação das hostilidades com Israel, há cerca de 11 meses. Isso ocorre em um momento de crescente tensão entre o Hezbollah e Israel, especialmente após o início do conflito na Faixa de Gaza, que reativou confrontos esporádicos ao longo da fronteira entre Israel e Líbano.
O governo libanês também reagiu com preocupação. O ministro da Informação do Líbano, Ziad Makary, classificou o ocorrido como um ataque israelense e pediu que todos os usuários de pagers no país descartassem imediatamente seus dispositivos. A medida reflete o temor de que outros pagers possam estar comprometidos, representando um risco contínuo à segurança pública.
Por outro lado, Israel ainda não se pronunciou oficialmente sobre as explosões. No entanto, as circunstâncias do incidente, juntamente com a história de confrontos entre Israel e Hezbollah, sugerem que o ataque pode ter sido uma nova tática israelense para desestabilizar o grupo. Israel já demonstrou no passado sua capacidade de realizar operações sofisticadas para eliminar alvos e prejudicar as capacidades operacionais de grupos inimigos, como aconteceu em 1996 com o assassinato do fabricante de bombas do Hamas, Yahya Ayyash, por meio de um celular carregado de explosivos.
A escalada das tensões entre Hezbollah e Israel, que se intensificaram após o ataque do Hamas a Israel em outubro, continua a preocupar a comunidade internacional. A explosão dos pagers pode ser apenas mais um capítulo desse conflito de longa data, mas as consequências são profundas, não só para o Hezbollah, mas para a estabilidade regional.
Fontes:
Texto: BBC Olhar Digital
Imagem: Flickr
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